Burnon e burnout: você sabe a diferença?

Por Brunella Tristão Simonelli

O termo burnout é bem familiar no contexto da saúde do trabalhador. Ganhou ainda mais visibilidade em 2022, quando foi reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma doença ocupacional.

Conhecida como a síndrome do esgotamento profissional, o burnout se caracteriza por um estado extremo de exaustão, estresse e embotamento físico e mental, causada por situações vivenciadas no trabalho, que se acumulam e sobrecarregam o trabalhador, incapacitando-o. O sentimento de incapacidade e ineficiência é percebido pelo profissional e constitui mais um fator de sofrimento.

O termo burnon, por sua vez, foi introduzido pelo psiquiatra Timo Schiele e pelo psicoterapeuta Bert te Wild, ambos alemães, que em 2021 publicaram um livro referente ao tema. Nesse contexto o profissional vivencia um estado crônico e intenso de fadiga e sofrimento, sem, necessariamente, evoluir para um quadro que o paralise. Ao contrário, nesse caso todo sofrimento tende a ser negado.

O termo ainda não é reconhecido pela comunidade médica internacional, mas fazendo um paralelo com o que já é descrito, trata-se de uma exaustão depressiva crônica, semelhante ao Transtorno Depressivo Persistente.

A diferença em relação ao burnout é que, no burnon, o trabalhador não chegou (ainda) à fase de colapso a ponto de ser incapacitado para o trabalho. A pausa para se reestabelecer não existe, porque ele sequer reconhece as dinâmicas física e emocional vivenciadas. O sofrimento é silencioso. Apesar da exaustão, o profissional continua produtivo, mesmo com algumas doenças psicossomáticas relacionadas, como pressão alta, bruxismo, desesperança, tensão muscular, dores no estômago, redução da imunidade e surgimento de doenças autoimunes, etc.

O fato é que muito provavelmente o prognóstico do burnon será o burnout. Ambos requerem uma reavaliação da relação do sujeito com o seu trabalho e, por parte das organizações, práticas de promoção de saúde mental, que vão além da prevenção ou tratamento das doenças ocupacionais.

A vida moderna, a competitividade, os anseios por ascensão na carreira geram por um lado, uma busca constante por produtividade e capacitação, e por outro, um sentimento de despreparo insuperável. É como se caminhássemos velozmente em uma esteira, perseguindo algo que nunca chega, mas que causa extrema exaustão.

A necessidade de estar atualizado e atento a novas possibilidades e demandas do mercado de trabalho é uma realidade, todavia, pode esconder e mascarar outro processo comum: o foco na vida profissional como uma fuga da vida pessoal. O organismo é um só e todos os aspectos da vida serão sentidos no mesmo corpo.

Então, é urgente que os profissionais e as organizações levantem a pauta do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O trabalhador precisa estar são para se manter produtivo, colaborativo e precisa chegar em casa com energia para dar conta de outra esfera da sua vida: a pessoal, social e familiar. Portanto, repensemos as nossas práticas. Não precisamos de burnon, nem burnout. Ansiamos por um trabalho com propósito, que alinhe as expectativas pessoais e profissionais, ou ainda, que una os objetivos dos trabalhadores e das organizações.

A dinâmica da vida mudou, tanto para os trabalhadores, quanto para os empregadores, que também estão suscetíveis ao adoecimento, logo, a dinâmica do trabalho precisa acompanhar essas transformações. O índice de trabalhadores afastados por motivos de adoecimento mental mostra que não podemos mais adiar isso.

brunella@talentorh.net

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